Drones nos céus <br> do Norte de África

Carlos Lopes Pereira

Marrocos e Argélia intensificaram a corrida aos armamentos e adquiriram recentemente sofisticados drones. As duas potências magrebinas justificam a compra com a instabilidade na região, a hipotética «ameaça terrorista» e a necessidade de vigiar as longas e porosas fronteiras. A origem dos aparelhos é diversa – Rússia, China, Estados Unidos e até Israel.

A Argélia, rica em gás natural e petróleo, gastará em 2014 mais de nove mil milhões de euros na Defesa – é hoje um dos países africanos com maior orçamento militar, rivalizando com o Egipto e a África do Sul.

Segundo o jornal argelino «El Watan», a Argélia comprou 30 drones de vigilância E95, de fabrico russo, por 36,5 milhões de euros. O El País, de Madrid, que cita o diário, acrescenta que Argel está também a negociar com a China a aquisição de aviões não tripulados Yi Long, mais caros e equipados com mísseis.

Com umas forças armadas de 300 mil homens, a Argélia tem larga experiência no combate ao extremismo islâmico. Ainda há um ano, um grupo jihadista liderado por Moktar Belmoktar assaltou e sequestrou durante alguns dias um campo de extracção de gás natural, em In Amenas, no Sudeste do país, um duro golpe para a indústria energética argelina.

Estes ataques à sua segurança são um desafio para a Argélia, que tem eleições presidenciais marcadas para Abril deste ano. Especula-se se o presidente Abdelaziz Bouteflika, doente, se irá recandidatar ou se a histórica Frente de Libertação Nacional apresentará um outro candidato, o que poderá provocar alguma instabilidade política.

Já Marrocos, um forte aliado do Ocidente e apoiado por monarquias do Golfo como a Arábia Saudita e o Catar, vai receber, por um preço simbólico, três drones Harfang em segunda mão, utilizados até agora pela força aérea francesa. Juntam-se aos quatro Predator XP norte-americanos já em sua posse desde o ano passado.

Interessante é o facto de a entrega dos Harfang, um produto franco-israelita, necessitar de autorização da empresa estatal Israel Aerospace Industries.

O jornalista Ignacio Cembrero, do El País, nota que é ridículo o governo de Rabat equipar-se com armamento israelita e, ao mesmo tempo, no parlamento, partidos no poder e na oposição discutirem leis que visam proibir os privados de manterem contactos comerciais com o estado judaico…

A prioridade do reino marroquino é o controlo do Sahara Ocidental, território que anexou, e a vigilância da fronteira com a Argélia. Marrocos estabeleceu com a Frente Polisário um cessar-fogo que dura há 23 anos, mas a República Árabe Saharauí Democrática continua a reivindicar o direito à autodeterminação e à independência. Há muito que as Nações Unidas e a «comunidade internacional», céleres em intervir noutros casos, prometeram um referendo que possibilite ao povo saharauí escolher o seu futuro.

EUA e França no Níger

A presença de drones – veículos aéreos não tripulados, que as tropas norte-americanas no Afeganistão têm utilizado em larga escala contra imaginários «terroristas» e, sobretudo, contra populações civis – não é uma novidade no Norte de África.

Os Estados Unidos instalaram há um ano, nos arredores de Niamey, no Níger – que faz fronteira com a Argélia e a Líbia – a primeira base de drones da região, onde operam cerca de 300 especialistas militares.

Os aviões não tripulados MQ-1 Predator estado-unidenses foram os «olhos» das tropas francesas que intervieram e ocuparam o Mali no início de 2013 e que ali permanecem.

Como escreve Cembrero, a França também quer dispor dos seus próprios meios bélicos de vigilância nas antigas colónias da faixa do Sahel, no quadro da agressiva política neocolonialista de Hollande.

Assim, comprou no ano passado aos Estados Unidos 12 drones MQ9-Reaper, de última geração, por 670 milhões de euros.

As primeiras unidades já foram entregues ao Ministério francês da Defesa mas nem sequer passaram por França – foram directamente enviadas da fábrica da General Atomics, nos Estados Unidos, para a base conjunta franco-americana da capital do Níger. País que é um fiel aliado de Paris e onde a multinacional Areva explora urânio que abastece em grande parte as centrais nucleares em França.

Estes drones da base de Niamey, em teoria, só sobrevoam o Níger e o Mali mas também podem espiar o Sul da Líbia, que com o descalabro do estado líbio, após a agressão militar da NATO, se tornou um santuário de bandos armados. Por agora, os aparelhos estão preparados apenas para missões de «reconhecimento», mas podem ser rapidamente equipados para transportar mísseis…




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